ATA DA VIGÉSIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 05.09.1991.

 


Aos cinco dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima Oitava Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Professor Juan José Mouriño Mosquera, concedido através do Projeto de Lei do Legislativo nº 47/91 (Processo nº 785/91). A seguir, o Senhor Presidente solicitou aos Senhores Vereadores Líderes de Bancadas que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades convidadas. Compuseram a Mesa: o Vereador Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Deputado Estadual Mauro Azeredo, representando a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; a Doutora Eulália Guimarães, Procuradora Geral do Município, representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Tenente Coronel João Francisco Quevedo, Comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar; o Professor Juan José Mouriño Mosquera, Homenageado; e o Vereador Leão de Medeiros, 1º Secretário da Casa. Em continuidade, o Senhor Presidente manifestou-se sobre o evento e anunciou os oradores que falariam em nome da Casa. O Vereador Wilson Santos, na condição de Autor da proposição que originou a homenagem e em nome das Bancadas do PL, PDT, PDS, PMDB, PTB, PFL e PCB, destacou o desempenho do Homenageado no magistério junto a Pontifícia Universidade

Católica. Manifestou sentir-se honrado por ter proposto a homenagem ao Professor Juan José Mouriño Mosquera. E o Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PT, exaltou qualidadades pessoais e profissionais do Homenageado, Professor Juan José Mouriño Mosquera, expressando a expectativa da permanência do mesmo na Cidade. Após, o Senhor Presidente solicitou à Doutora Eulália Guimarães, Procuradora Geral do Município, representando o Senhor Prefeito Municipal, que procedesse à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Professor Juan José Mouriño Mosquera, em companhia do Vereador Wilson Santos, proponente da homenagem. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Homenageado, Professor Juan José Mouriño Mosquera, que agradeceu pela honraria prestada pela Casa. Após, o Senhor Presidente solicitou ao Vereador Leão de Medeiros que procedesse à entrega de recordação da Casa ao Professor Juan José Mouriño Mosquera. Às dezoito horas, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente agradeceu pela presença de todos, declarou encerrados os trabalhos, convidou os Senhores Vereadores para Sessão Solene, amanhã, alusiva à passagem dos duzentos e dezoito anos deste Legislativo, e os convocou para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Leão de Medeiros, e secretariados pelo Vereador Leão de Medeiros. Do que eu, Leão de Medeiros, lº Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.

 


O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Boa-tarde, minhas Senhoras e meus Senhores!

Estamos dando por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a conceder o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Prof. Juan José Mouriño Mosquera, conforme o Processo n° 0785/91, de autoria do Ver. Wilson Santos.

Fazem parte da Mesa, além desta Presidência e do Secretário da Casa, Ver. Leão de Medeiros; o homenageado, Prof. Mosquera; a Drª Eulália Guimarães, Procuradora-Geral do Município, na representação do Sr. Prefeito Municipal; o Dep. Mauro Azeredo, representando a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; e o Tenente-Cel. João Francisco Quevedo, Comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar.

Registramos, dentre outras, as presenças do Sr. David Carvalho, da Profª Kátia Loureiro Silveira Saraiva, do ex-Vereador Frederico Barbosa, da Srª Marlene Schirmer, Coordenadora de Pós-Graduação da ULBRA, da Srª Cleci dos Santos, esposa do Ver. Wilson Santos e, ao longo da Sessão, vamos registrando outros convidados e amigos, certamente, ex-alunos que existem aos montes nesta Cidade em relação ao Prof. Mosquera, inclusive este Presidente, com muita honra.

Falarão, nesta Sessão, o Ver. Wilson Santos, pelas Bancadas do PL, sua Bancada, do PDS, PMDB, PTB e PDT e este Vereador, pela Bancada do PT.

Com a palavra o proponente desta homenagem, Ver. Wilson Santos.

 

O SR. WILSON SANTOS: (Menciona os componentes da Mesa.) Demais presentes que neste momento engrandecem este ato pelo cunho relevante que ele tem para a cidade de Porto Alegre.

Eu gostaria que, neste momento, nós pudéssemos fazer a primeira homenagem a um verdadeiro monumento como exemplo à cultura, nosso homenageado especial Juan José Mouriño Mosquera, nosso Cidadão de Porto Alegre, e que todos ouvíssemos o poema “La Calle”.

 

(As pessoas presentes no Plenário escutam a gravação do poema “La Calle”.)

 

O SR. WILSON SANTOS: Não terás, poeta, a tua casa solitária e triste; terás a rua da tua mocidade, meia-idade, não como uma lembrança do ontem e dos outros, mas como uma lembrança do que é teu.

Trouxeste de La Coruña, Espanha, talento, lirismo e honrosa contribuição à cultura porto-alegrense, residindo e trabalhando nas casas, nas ruas da capital do Rio Grande do Sul. (Lê.):

“O Professor Juan José Mouriño Mosquera nasceu em março de 1937, na cidade de La Coruña, na Espanha, e muito jovem sai da Europa a passeio na América do Sul. Visita o Rio de Janeiro, depois Buenos Aires na Argentina, e volta ao Brasil, conhecendo, então, Porto Alegre. Mas, um fato na sua chegada vai modificar toda a sua vida.... Juan Mosquera perde seus documentos. À procura dos mesmos, acaba conhecendo mais devagar e gostando da cidade. Resolve ficar, adotando a cidadania brasileira e honrando os gaúchos e acrescentando muito às letras, ao ensino e às artes rio-grandenses.

Juan Mosquera licenciou-se em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, fez curso de especialização em Metodologia Científica em nível de Pós-Graduação, é Mestre em Psicologia Educacional e Doutor em Pedagogia. Possui, Juan José Mouriño Mosquera, um enorme e qualificado currículo, que seria impossível relatar nesta Sessão. Tem vários livros publicados, além de trabalhos técnicos para revistas nacionais e internacionais, sendo participante ativo como conferencista, ou, palestrante em congressos e encontros no Brasil e exterior. Dentro de seu campo de trabalho, atua como orientador e ministrante de cursos de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, contribuindo de maneira significativa para a formação de educadores, educandos, psicólogos, literatos e muitos, outros profissionais. Por toda a atividade que tem desenvolvido de forma intensa e plena de êxito, gerando consideráveis benefícios para a cidade de Porto Alegre, é que entendemos que é dever de justiça e reconhecimento de mérito, outorgar ao Mestre e Doutor Juan José Mouriño Mosquera, o título de Cidadão de Porto Alegre.”

Isto, meu querido Professor Mosquera, era o que estava escrito, agora, a pasta está em branco, mas como sei que o vazio dos nossos corações tem que ser preenchido com um conteúdo maior, e nós o preenchemos, e eu pretendo sempre preencher com o ensino moral de Cristo, fiz questão absoluta, e na certeza de que o nosso gabinete, a nossa assessoria teve ao propor esta homenagem, que fala em minha alma e coração. E eu gostaria de dizer o seguinte: Jesus Cristo chamou a multidão e disse: “O que torna impuro o homem não é o que nele entra de fora, mas o que sai do seu interior, pois é do coração do homem que saem as más intenções, que sai a corrupção, a fraude, a licenciosidade, e tantos males que degeneram a nossa sociedade, porque é de dentro do coração do homem que saem estas coisas que o tornam impuro”. Essas foram as palavras do Senhor.

Tenho certeza de que só vamos consertar o mundo, se consertarmos o homem. E eu, talvez, me utilizasse também de uma linguagem metafórica. Um mestre, diante de uma platéia, apanhou um mapa do mundo, rasgou em vários pedaços e desafiou a platéia, que se apresentasse um voluntário que mais rápido reconstruísse aquele mapa. O mestre ficou surpreso, pois um menino levantou a mão. O mestre ficou surpreso, mas diante do voluntário, entregou-lhe aquele mapa rasgado em vários pedaços, os países, seus continentes. O menino sai da sala e, três minutos após, traz o mapa reconstituído e colado. O Mestre fica perplexo e quis saber a fórmula mágica. Ele diz: “No momento em que o Senhor despedaçava o mundo, eu vi que, no verso do mapa, tinha a figura de um homem. Apenas reconstituí o homem e acertei o mundo”!

É isto, Juan Mosquera. A reforma profunda que temos que fazer é uma reflexão nossa: mudar o ser humano para podermos mudar o mundo. Como mudar? Fazendo a competição pelas virtudes, fazendo com que o ser humano se torne com maior virtude e dispute essas virtudes e, conseqüentemente, possamos galgar degrau a degrau ascendentemente. Os exemplos têm que ser seguidos. A decência existe ainda. Uma das maneiras de se reconstituir este Brasil tão sacrificado é pelo caminho da cultura. Mas quanta demagogia, quanta retórica, que educação e cultura tem que ser prioridade. Entra Governo, sai Governo, entra esperança, sai esperança, entra Collor diz que a cultura vai ser valorizada, que educação vai ser valorizada. Sou obrigado a fazer crítica, pois ela faz parte da emoção. Entregam a Secretaria da Cultura a Ipojuca Pontes que nada faz, a não ser, ser criticado em dias de semana por passear em Copacabana com um cachorrinho pela mão, criticado por Fernando Collor de Mello. E a gente lê isso nos jornais e vê, esta é a prioridade para a cultura e a educação não deixa por menos.

Então, é necessário que se peguem os verdadeiros exemplos para instigar até o potencial dentro de cada um que está em estado latente ou que está adormecido e tem que se manifestar. Por isto nós fomos buscar Juan José Mouriño Mosquera. Um monumento, mas não de pedra, um monumento animado, com alma, coração e movimento que dá exemplo de cultura. Por isto, eu trouxe a esta Casa e fizemos um projeto de lei e é impressionante como ele motivava a todos os Vereadores.

Hoje, eu falo em nome das Bancadas do PL, PDS, PTB, PFL, PCB, PMDB e PDT. Mas não foi tranqüilo e nem é tranqüilo, porque eu vou falar pelo PT pela metade porque o Presidente desta Casa, o Presidente do Parlamento da Capital do Estado do Rio Grande do Sul não abriu mão de falar. Aluno, admirador, não abriu mão de usar a palavra para homenagear a grandeza que representa Juan José Mosquera.

Eu gostaria ainda de dizer, sentindo tudo aquilo que me tocou e não só aquele momento de lirismo, de alguma coisa que foi colocada no papel e está aí como patrimônio cultural para nós que é o Prof. Mosquera. Eu gostaria de pinçar qualquer verso, sem me preocupar com autores e até o primeiro que me vem à mente eu lembro, Atahualpa Yupanki, que diz:

“Yo tengo muchos hermanos/ que no les puedo contar/ en el valle, en la montaña/ en la pampa y nel mar.

Yo tengo muchos hermanos/ que no les puedo contar/ cada cual con sus trabajos/ Con sus sueños cada cual/ Con la esperanza adelante/ Con sus recuerdos de atrás/ Yo tengo muchos hermanos/ que no les puedo contar/ y una hermana muy hermosa/ que se llama Libertad.”

Pois esta liberdade, o livre arbítrio que nós temos, que fez com que fizéssemos esta homenagem, que faz com que escolhamos o caminho para falar, livre de qualquer roteiro mais longo, escrito.

“Enquanto o homem que for de intensa lida,/ hirto cadáver eu não baixar à campa/ Deixai que eu sagre entre canções da estampa/ fremente jovem de mulher que é a vida/ Enquanto inerte eu não rolar na rampa/ aonde por todo sempre o ser se olvida/ Deixai que eu ronde com paixão perdida/ as querências do meu verde pampa.

Deixai que eu me dissolva em versos/ e cante os pagos andarengos de rumos e veredas/ E deixai até que eu queime como um cerne firme/ entre os gritos de luz das labaredas!”

Esta é a liberdade que faz com que na vibração se dê o exemplo até de se querer queimar liricamente entre os gritos de luz das labaredas. Por tudo, pela emoção que vem, só posso dizer a esta Casa e à inspiração divina que tivemos duas palavras: muito obrigado, por tudo isso que vivemos; elas são simples e sinceras e provindas do fundo do coração, pois temos a felicidade de coroarmos de êxito esta homenagem. Meu Deus, muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Solicito que o Ver. Leão de Medeiros assuma a Presidência dos trabalhos para que este Vereador faça uso da palavra.

 

O SR. PRESIDENTE (Leão de Medeiros): Com a palavra o Ver. Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PT.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Meu prezado amigo, Ver. Leão de Medeiros, ora presidindo os trabalhos; minha prezada amiga, Srª Procuradora-Geral do Município de Porto Alegre, Drª Eulália Guimarães; Exmo Sr. Dep. Mauro Azeredo, representando a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; Tenente-Coronel João Francisco Cunha Quevedo, Comandante do 9º BPM; meu prezado Professor Juan José Mouriño Mosquera. Eu vou fazer essas manifestações, porque com elas, de uma certa maneira, quero mencionar esse ciclo vital, que é fantástico, que a gente vive e completa em certos momentos.

Fomos colegas, me permito dizer, o Mauro e eu, porque nem pensava ele, certamente naquela quando estava na frente de uma Delegacia de Polícia, fazendo o seu trabalho profissional, certamente não pensava o Mauro que seria o Prefeito de Santo Ângelo, um Deputado Estadual, nem me passava pela cabeça um dia ser Vereador desta Cidade e presidir esta Casa. Fomos colegas, eu fui aluno do Mosquera, eventualmente, Professor do Quevedo. E eu, vejo aqui, na sala, pelo menos dois ou três professores daquele tempo. A Professora Grasiela Pacheco, pela qual todos nós temos um carinho imenso sempre; meu Professor e hoje Diretor de Pós-Graduação Noel Clemente, da PUC; e aí devo mencionar todos aqueles professores da PUC. Já, naquela época que fui aluno, o Irmão Maynard; Irmão Armando Bortolin, Irmão Francisco Jardim, já eram os professores e hoje respondem pela Direção da Pontifícia Universidade Católica. Para não falar de um amigo muito especial que aqui se encontra, que é o Frei Rovílio Costa, que tem nos acompanhado nesta Casa nos bons e nos maus momentos, nas festas e até mesmo nos momentos de tristeza, como há pouco tempo ocorre, quando um dos ex-Vereadores desta Casa, falecido, por sua decisão foi aqui velado e a encomendação foi exatamente sugerida e solicitada ao Rovílio e ele imediatamente nos atendeu.

O Ver. Wilson Santos mencionava que nós disputamos o direito de falar, e realmente é verdade. Na verdade, hoje, quebramos duas vezes a previsão desta Sessão. A primeira é porque o Ver. Leão de Medeiros iria presidir esta Sessão. Nós temos o que considero um salutar hábito de fazermos um rodízio na Presidência dos trabalhos. Inclusive, com o próprio Ver. Wilson Santos, que integra também a Mesa Diretora da Casa como 2º Secretário.

Mas me foi possível desincumbir das funções e ao menos queria assistir à Sessão com o Mosquera. Então, o Ver. Leão de Medeiros gentilmente abriu mão e nos cedeu a Presidência dos trabalhos. Por outro lado, conversava com o Ver. Wilson Santos e dizia, já que vou estar aqui, então quero dar a minha presença, sem tirar a autorização do Ver. Wilson Santos falar pela minha Bancada, mas não poderia deixar evidentemente de me manifestar, antes de tudo ao amigo Mosquera. Porque é bom que se diga, se eu estou aqui hoje, um dos responsáveis é este Cidadão que está aí sendo homenageado.

O Mosquera é o tipo daqueles professores raros hoje em dia, infelizmente, que o aluno tem uma relação radical, ou a gente adere total ao professor, ou a gente repele total o professor. O Mosquera não dá chance da gente ser em cima do muro, café com leite. Ou a gente entra pro time do Mosquera e se envolve absolutamente com as aulas que ele dá, ou a gente odeia a aula do Mosquera, porque o Mosquera faz pensar, o Mosquera provoca, sobretudo se a gente resolve não gostar, aí parece que acende e vem para cima. E isto me parece que é fundamental, sobretudo, nos cursos em que o Professor Mosquera trabalha, quando está preparando professores, quando está preparando aqueles que, profissionalmente, vão ter, depois, a responsabilidade de prosseguir essa tarefa da transmissão do conhecimento e da cultura e, mais do que uma transmissão apenas formal, eu diria a transmissão desse carimbo muito especial, dessa maneira muito pessoal que é a de a gente se envolver realmente com as coisas. Esse entusiasmo do Prof. Mosquera, essa paixão verdadeira do Prof. Mosquera, faz com que muitas vezes ele esqueça horários.

Eu sou um sujeito que ao longo de todos esses anos vem fazendo milhares de coisas simultaneamente, mas, certamente, o Mosquera me ganha. Toda vez que eu cruzei com ele, ele conseguiu andar mais ligeiro do que eu e a gente só passava um pelo outro, era um vento de ambos os lados, era só “Oi!” e ele já estava longe, porque está sempre correndo. Ele sai de um curso daqui para dar outro curso ali, nesse meio tempo escreve um artigo, produz um livro e está provocando uma aluna, evidentemente, que ele não perde essa oportunidade. Nesse sentido, o Prof. Mosquera certamente terá tido uma influência decisiva - acho que não vou errar em dizer - em milhares de alunos, milhares de alunos que passaram nos estágios do Colégio de Aplicação da UFRGS, nos cursos de Pedagogia, aqueles que ouviram uma palestra do Mosquera, aqueles que tiveram a oportunidade de privar com o Mosquera em algum encontro mais social, na casa de algum convidado, mas onde a conversa acabava sendo catalisada pelo Mosquera que, além do mais, não fala baixo, como eu, e como tem firmeza de posições, evidentemente, acaba centralizando essas conversas e garante as suas posições e briga por elas o que eu acho muito importante.

Quando em 1974, por motivos que todos nós conhecemos, da política brasileira, eu me decidi por me afastar do Brasil, por via das dúvidas, levei poucos livros comigo para o Canadá. E um dos livros que foi comigo foi o do Mosquera, “A Psicologia da Arte”. Um livrinho muito simples, que a Sulina editou. Hoje já não sei quantas edições tem isso, não é Mosquera? Mas algumas edições. E foi um dos livros que me acompanhou ao longo de um ano e pico que eu fiquei trabalhando em Montreal e onde até acabei por estabelecer uma relação talvez até mais eficiente com o Mosquera pela correspondência. Por isso eu quero dizer que, realmente, de maneira pessoal, através das idéias, sobretudo por uma coisa que eu acho extremamente importante num professor, pelo respeito que o Mosquera tem pelo seu aluno. Que é uma coisa fundamental para quem é aluno. O Mosquera marcou. Marcou a todos nós que passamos pelas suas classes com mais ou menos tempo.

E é por isso, Ver. Wilson Santos, que eu não podia lhe deixar ficar sozinho falando aqui hoje, eu tinha que meter a minha colher, neste discurso, para dizer ao meu professor e ao meu amigo Juan José Mouriño Mosquera, e fazer eco, com toda a certeza a tantos ex-alunos. Imagino que a Marlene Schirmer que está aqui na minha frente, que hoje coordena o Pós-Graduação da Ulbra, e imagino que muitos que vejo aqui, que são mais ou menos da minha geração, todos nós gostaríamos de dizer tudo isso que foi dito pelo Ver. Wilson Santos ao Mosquera. Muito obrigado. E a nossa expectativa de que este título nos garanta a tua permanência. Tu que escolheste este lugar para ficar, tu escolheste como tua família este grupo imenso de colegas, professores e de alunos. Hoje, tu formalizas ou nós te formalizamos como um do nossos.

Esperamos que efetivamente que este agradecimento formal, muito humilde, apenas te mantenha convocado a permaneceres aqui conosco até quando for possível. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Devolvo a Presidência dos trabalhos ao Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Agradeço ao Ver. Leão de Medeiros e agora passamos a esse momento central que é a entrega do título.

Eu passo, portanto, às mãos da Drª Eulália Guimarães, Procuradora-Geral do Município, aqui, na representação do Sr. Prefeito Municipal, o diploma que será entregue ao Prof. Mosquera e peço ao Ver. Wilson Santos que venha também aqui para fazer a entrega da medalha correspondente.

Pediria a todos que assistissem ao ato em pé.

 

(A Srª Eulália Guimarães procede à entrega do diploma.) (Palmas.)

 

(O Ver. Wilson Santos procede à entrega da medalha.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra ao nosso homenageado, Sr. Juan Mosquera.

 

O SR. JUAN JOSÉ MOURIÑO MOSQUERA: Gostaria de dizer que não preparei nenhum discurso, pela primeira vez, pois sou tão programado. Resolvi falar o que vou sentir.

Antes, evidentemente, tenho que agradecer ao Sr. Vereador Antonio Hohlfeldt; Ver. Leão de Medeiros; Dep. Mauro Azeredo; Srª Eulália Guimarães, representando o Prefeito Olívio Dutra; Sr. Tenente-Coronel João Quevedo.

Gostaria, também, de cumprimentar todas as pessoas que estão acompanhando este ato, inclusive, meus chefes da Pontifícia Universidade Católica, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Ulbra, que estão aqui presentes.

Gostaria de agradecer ao pessoal da Universidade Católica do Uruguai que tem mandado vários telegramas no dia de hoje.

Estou muito emocionado. Se tornou lugar comum dizer isto, mas eu estou, pela primeira vez, tremendo. E não é fácil eu tremer. Isto é bastante importante, porque se eu lembro quando cheguei a Porto Alegre, em 1960, e por um acidente de percurso tive que ficar na Cidade - e eu pouco gostava dela - eu aprendi a ir amando aos poucos realmente, foi uma longa caminhada. Este é um momento, para mim muito significativo, porque eu tenho compreendido, realmente. Porto Alegre é um lugar que escolhi para viver, para trabalhar e, principalmente, para tentar ser, na expressão de Erik Erikson, “um ser gerativo”. A geratividade é aquela capacidade que as pessoas têm de ir deixando a possibilidade de ver os outros crescerem e crescer juntos.

É também muito emocionante, em primeiro lugar, pelas palavras do Wilson - permita-me assim chamar, quebrando o protocolo - porque o Wilson também coloca uma parte, para mim importante, que é o valor e o significado de Deus. Pouco valeríamos se não tivéssemos em nós esta idéia, este critério. Eu acho que de nós vimos e a Deus voltamos. E acho que este intermédio do que fazemos é muito importante, porque é um compromisso. O compromisso social, o compromisso pessoal e que, realmente, algo nas palavras do colega me tocaram de forma profunda. Nós, professores, somos de fato modelos de identidade e modelos que se espelham no transcorrer da vida das pessoas.

Antonio, me permita, agora, dizer, eu te conheço há anos e te quero muito bem, vi tua carreira toda e vejo tua carreira e acompanho, te dizer que tuas palavras foram também muito importantes para mim. Palavras que demontram que um professor não deixa - se ele é apaixonado - de marcar o seu aluno. E esta marca é muito importante, porque é o que resta de melhor para o professor. É o que o professar pode e deve, realmente, deixar no outro: a vontade de crescer, a vontade de ir pra frente e a vontade de ser pessoa.

A todos os que estão aqui e que me tem acompanhado em qualquer tipo de atividade ou de relacionamento, eu considero um privilégio estar, hoje, aqui, recebendo este título. E me sinto duplamente responsável, porque este título me liga em definitivo a Porto Alegre. E esta ligação não é uma ligação a coisas, é uma ligação a pessoas, é a ligação a valores.

A todos vocês que estão aqui, a todos, eu gostaria de dizer “muito obrigado”. Penso, neste momento, em duas pessoas em especial: na minha mãe e na minha primeira mãe espiritual, em Porto Alegre, que foi D. Alaídes do Amaral. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: No encerramento desta Sessão, tenho o privilégio de, pela primeira vez, completar esta homenagem com um pequeno brinde, o qual será oferecido pela Câmara, a partir desta Sessão, aos seus homenageados. É um brinde muito simples; de um lado um pequeno jogo de xicrinhas com o brasão de Porto Alegre. De outro lado, uma iniciativa da Mesa, uma publicação sobre a história e sentido desta Casa.

É a nossa pequena contribuição para a recuperação da imagem do Legislativo em geral e deste Legislativo, a qual estamos buscando, com a transparência da Administração, nesta junção partidária que buscamos e, sobretudo, com seriedade, queremos desejar mais uma vez ao Mosquera, que mediu o tempo certinho da emoção maior para encerrar o seu discurso e é realmente uma alegria muito grande, Prof. Mosquera, estarmos aqui na Casa, presidindo os trabalhos, no momento da homenagem ao Professor a quem tanto admiramos.

Encerramos os trabalhos, nesta tarde, convocamos os Srs. Vereadores para a Sessão Solene de aniversário da Casa, amanhã pela manhã, às 9h30min, a qual convidamos as Senhoras e Senhores que quiserem nos dar o prazer. Estão encerrados os trabalhos na tarde de hoje.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h.)

 

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