ATA DA VIGÉSIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 05.09.1991.
Aos cinco dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e noventa e um
reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de
Porto Alegre, em sua Vigésima Oitava Sessão Solene da Terceira Sessão
Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e vinte e cinco
minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou
abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada à entrega do Título
Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Professor Juan José Mouriño Mosquera,
concedido através do Projeto de Lei do Legislativo nº 47/91 (Processo nº
785/91). A seguir, o Senhor Presidente solicitou aos Senhores Vereadores
Líderes de Bancadas que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades
convidadas. Compuseram a Mesa: o Vereador Antonio Hohlfeldt, Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre; o Deputado Estadual Mauro Azeredo, representando
a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; a Doutora Eulália
Guimarães, Procuradora Geral do Município, representando o Senhor Prefeito
Municipal de Porto Alegre; o Tenente Coronel João Francisco Quevedo, Comandante
do 9º Batalhão da Polícia Militar; o Professor Juan José Mouriño Mosquera,
Homenageado; e o Vereador Leão de Medeiros, 1º Secretário da Casa. Em
continuidade, o Senhor Presidente manifestou-se sobre o evento e anunciou os
oradores que falariam em nome da Casa. O Vereador Wilson Santos, na condição de
Autor da proposição que originou a homenagem e em nome das Bancadas do PL, PDT,
PDS, PMDB, PTB, PFL e PCB, destacou o desempenho do Homenageado no magistério
junto a Pontifícia Universidade
Católica. Manifestou sentir-se honrado por ter proposto a homenagem ao
Professor Juan José Mouriño Mosquera. E o Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome
da Bancada do PT, exaltou qualidadades pessoais e profissionais do Homenageado,
Professor Juan José Mouriño Mosquera, expressando a expectativa da permanência
do mesmo na Cidade. Após, o Senhor Presidente solicitou à Doutora Eulália
Guimarães, Procuradora Geral do Município, representando o Senhor Prefeito
Municipal, que procedesse à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto
Alegre ao Professor Juan José Mouriño Mosquera, em companhia do Vereador Wilson
Santos, proponente da homenagem. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a
palavra ao Homenageado, Professor Juan José Mouriño Mosquera, que agradeceu
pela honraria prestada pela Casa. Após, o Senhor Presidente solicitou ao
Vereador Leão de Medeiros que procedesse à entrega de recordação da Casa ao
Professor Juan José Mouriño Mosquera. Às dezoito horas, nada mais havendo a
tratar, o Senhor Presidente agradeceu pela presença de todos, declarou
encerrados os trabalhos, convidou os Senhores Vereadores para Sessão Solene,
amanhã, alusiva à passagem dos duzentos e dezoito anos deste Legislativo, e os
convocou para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos
foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Leão de Medeiros, e
secretariados pelo Vereador Leão de Medeiros. Do que eu, Leão de Medeiros, lº
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada,
será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Antonio
Hohlfeldt): Boa-tarde, minhas Senhoras e meus Senhores!
Estamos dando por abertos os trabalhos da
presente Sessão Solene, destinada a conceder o título honorífico de Cidadão de
Porto Alegre ao Prof. Juan José Mouriño Mosquera, conforme o Processo n°
0785/91, de autoria do Ver. Wilson Santos.
Fazem parte da Mesa, além desta Presidência e do
Secretário da Casa, Ver. Leão de Medeiros; o homenageado, Prof. Mosquera; a Drª
Eulália Guimarães, Procuradora-Geral do Município, na representação do Sr.
Prefeito Municipal; o Dep. Mauro Azeredo, representando a Assembléia
Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; e o Tenente-Cel. João Francisco
Quevedo, Comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar.
Registramos, dentre outras, as presenças do Sr.
David Carvalho, da Profª Kátia Loureiro Silveira Saraiva, do ex-Vereador
Frederico Barbosa, da Srª Marlene Schirmer, Coordenadora de Pós-Graduação da
ULBRA, da Srª Cleci dos Santos, esposa do Ver. Wilson Santos e, ao longo da
Sessão, vamos registrando outros convidados e amigos, certamente, ex-alunos que
existem aos montes nesta Cidade em relação ao Prof. Mosquera, inclusive este
Presidente, com muita honra.
Falarão, nesta Sessão, o Ver. Wilson Santos,
pelas Bancadas do PL, sua Bancada, do PDS, PMDB, PTB e PDT e este Vereador,
pela Bancada do PT.
Com a palavra o proponente desta homenagem, Ver.
Wilson Santos.
O SR. WILSON SANTOS: (Menciona os
componentes da Mesa.) Demais presentes que neste momento engrandecem este ato
pelo cunho relevante que ele tem para a cidade de Porto Alegre.
Eu gostaria que, neste momento, nós pudéssemos fazer a primeira homenagem a um verdadeiro monumento como exemplo à cultura, nosso homenageado especial Juan José Mouriño Mosquera, nosso Cidadão de Porto Alegre, e que todos ouvíssemos o poema “La Calle”.
(As pessoas presentes no Plenário escutam a gravação do poema “La Calle”.)
O SR. WILSON SANTOS: Não terás,
poeta, a tua casa solitária e triste; terás a rua da tua mocidade, meia-idade,
não como uma lembrança do ontem e dos outros, mas como uma lembrança do que é
teu.
Trouxeste de La Coruña, Espanha, talento, lirismo
e honrosa contribuição à cultura porto-alegrense, residindo e trabalhando nas
casas, nas ruas da capital do Rio Grande do Sul. (Lê.):
“O Professor Juan José Mouriño Mosquera nasceu em
março de 1937, na cidade de La Coruña, na Espanha, e muito jovem sai da Europa
a passeio na América do Sul. Visita o Rio de Janeiro, depois Buenos Aires na
Argentina, e volta ao Brasil, conhecendo, então, Porto Alegre. Mas, um fato na
sua chegada vai modificar toda a sua vida.... Juan Mosquera perde seus
documentos. À procura dos mesmos, acaba conhecendo mais devagar e gostando da
cidade. Resolve ficar, adotando a cidadania brasileira e honrando os gaúchos e
acrescentando muito às letras, ao ensino e às artes rio-grandenses.
Juan Mosquera licenciou-se em Pedagogia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, fez curso de especialização em
Metodologia Científica em nível de Pós-Graduação, é Mestre em Psicologia
Educacional e Doutor em Pedagogia. Possui, Juan José Mouriño Mosquera, um
enorme e qualificado currículo, que seria impossível relatar nesta Sessão. Tem
vários livros publicados, além de trabalhos técnicos para revistas nacionais e
internacionais, sendo participante ativo como conferencista, ou, palestrante em
congressos e encontros no Brasil e exterior. Dentro de seu campo de trabalho,
atua como orientador e ministrante de cursos de Pós-Graduação, Mestrado e
Doutorado, contribuindo de maneira significativa para a formação de educadores,
educandos, psicólogos, literatos e muitos, outros profissionais. Por toda a
atividade que tem desenvolvido de forma intensa e plena de êxito, gerando
consideráveis benefícios para a cidade de Porto Alegre, é que entendemos que é
dever de justiça e reconhecimento de mérito, outorgar ao Mestre e Doutor Juan
José Mouriño Mosquera, o título de Cidadão de Porto Alegre.”
Isto, meu querido Professor Mosquera, era o que
estava escrito, agora, a pasta está em branco, mas como sei que o vazio dos
nossos corações tem que ser preenchido com um conteúdo maior, e nós o
preenchemos, e eu pretendo sempre preencher com o ensino moral de Cristo, fiz
questão absoluta, e na certeza de que o nosso gabinete, a nossa assessoria teve
ao propor esta homenagem, que fala em minha alma e coração. E eu gostaria de
dizer o seguinte: Jesus Cristo chamou a multidão e disse: “O que torna impuro o
homem não é o que nele entra de fora, mas o que sai do seu interior, pois é do
coração do homem que saem as más intenções, que sai a corrupção, a fraude, a
licenciosidade, e tantos males que degeneram a nossa sociedade, porque é de
dentro do coração do homem que saem estas coisas que o tornam impuro”. Essas
foram as palavras do Senhor.
Tenho certeza de que só vamos consertar o mundo,
se consertarmos o homem. E eu, talvez, me utilizasse também de uma linguagem
metafórica. Um mestre, diante de uma platéia, apanhou um mapa do mundo, rasgou
em vários pedaços e desafiou a platéia, que se apresentasse um voluntário que
mais rápido reconstruísse aquele mapa. O mestre ficou surpreso, pois um menino
levantou a mão. O mestre ficou surpreso, mas diante do voluntário, entregou-lhe
aquele mapa rasgado em vários pedaços, os países, seus continentes. O menino
sai da sala e, três minutos após, traz o mapa reconstituído e colado. O Mestre
fica perplexo e quis saber a fórmula mágica. Ele diz: “No momento em que o
Senhor despedaçava o mundo, eu vi que, no verso do mapa, tinha a figura de um
homem. Apenas reconstituí o homem e acertei o mundo”!
É isto, Juan Mosquera. A reforma profunda que
temos que fazer é uma reflexão nossa: mudar o ser humano para podermos mudar o
mundo. Como mudar? Fazendo a competição pelas virtudes, fazendo com que o ser
humano se torne com maior virtude e dispute essas virtudes e, conseqüentemente,
possamos galgar degrau a degrau ascendentemente. Os exemplos têm que ser
seguidos. A decência existe ainda. Uma das maneiras de se reconstituir este
Brasil tão sacrificado é pelo caminho da cultura. Mas quanta demagogia, quanta
retórica, que educação e cultura tem que ser prioridade. Entra Governo, sai
Governo, entra esperança, sai esperança, entra Collor diz que a cultura vai ser
valorizada, que educação vai ser valorizada. Sou obrigado a fazer crítica, pois
ela faz parte da emoção. Entregam a Secretaria da Cultura a Ipojuca Pontes que
nada faz, a não ser, ser criticado em dias de semana por passear em Copacabana
com um cachorrinho pela mão, criticado por Fernando Collor de Mello. E a gente
lê isso nos jornais e vê, esta é a prioridade para a cultura e a educação não
deixa por menos.
Então, é necessário que se peguem os verdadeiros
exemplos para instigar até o potencial dentro de cada um que está em estado
latente ou que está adormecido e tem que se manifestar. Por isto nós fomos
buscar Juan José Mouriño Mosquera. Um monumento, mas não de pedra, um monumento
animado, com alma, coração e movimento que dá exemplo de cultura. Por isto, eu
trouxe a esta Casa e fizemos um projeto de lei e é impressionante como ele
motivava a todos os Vereadores.
Hoje, eu falo em nome das Bancadas do PL, PDS,
PTB, PFL, PCB, PMDB e PDT. Mas não foi tranqüilo e nem é tranqüilo, porque eu
vou falar pelo PT pela metade porque o Presidente desta Casa, o Presidente do
Parlamento da Capital do Estado do Rio Grande do Sul não abriu mão de falar.
Aluno, admirador, não abriu mão de usar a palavra para homenagear a grandeza
que representa Juan José Mosquera.
Eu gostaria ainda de dizer, sentindo tudo aquilo
que me tocou e não só aquele momento de lirismo, de alguma coisa que foi
colocada no papel e está aí como patrimônio cultural para nós que é o Prof.
Mosquera. Eu gostaria de pinçar qualquer verso, sem me preocupar com autores e
até o primeiro que me vem à mente eu lembro, Atahualpa Yupanki, que diz:
“Yo tengo muchos
hermanos/ que no les puedo contar/ en el valle, en la montaña/ en la pampa y
nel mar.
Yo tengo muchos
hermanos/ que no les puedo contar/ cada cual con sus trabajos/ Con sus sueños
cada cual/ Con la esperanza adelante/ Con sus recuerdos de atrás/ Yo tengo
muchos hermanos/ que no les puedo contar/ y una hermana muy hermosa/ que se
llama Libertad.”
Pois esta liberdade, o livre arbítrio que nós
temos, que fez com que fizéssemos esta homenagem, que faz com que escolhamos o
caminho para falar, livre de qualquer roteiro mais longo, escrito.
“Enquanto o homem que for de intensa lida,/ hirto
cadáver eu não baixar à campa/ Deixai que eu sagre entre canções da estampa/
fremente jovem de mulher que é a vida/ Enquanto inerte eu não rolar na rampa/
aonde por todo sempre o ser se olvida/ Deixai que eu ronde com paixão perdida/
as querências do meu verde pampa.
Deixai que eu me dissolva em versos/ e cante os
pagos andarengos de rumos e veredas/ E deixai até que eu queime como um cerne
firme/ entre os gritos de luz das labaredas!”
Esta é a liberdade que faz com que na vibração se
dê o exemplo até de se querer queimar liricamente entre os gritos de luz das
labaredas. Por tudo, pela emoção que vem, só posso dizer a esta Casa e à
inspiração divina que tivemos duas palavras: muito obrigado, por tudo isso que
vivemos; elas são simples e sinceras e provindas do fundo do coração, pois
temos a felicidade de coroarmos de êxito esta homenagem. Meu Deus, muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Solicito que o
Ver. Leão de Medeiros assuma a Presidência dos trabalhos para que este Vereador
faça uso da palavra.
O SR. PRESIDENTE (Leão de
Medeiros): Com a palavra o Ver. Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PT.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Meu prezado
amigo, Ver. Leão de Medeiros, ora presidindo os trabalhos; minha prezada amiga,
Srª Procuradora-Geral do Município de Porto Alegre, Drª Eulália Guimarães; Exmo
Sr. Dep. Mauro Azeredo, representando a Assembléia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul; Tenente-Coronel João Francisco Cunha Quevedo, Comandante do 9º
BPM; meu prezado Professor Juan José Mouriño Mosquera. Eu vou fazer essas
manifestações, porque com elas, de uma certa maneira, quero mencionar esse
ciclo vital, que é fantástico, que a gente vive e completa em certos momentos.
Fomos colegas, me permito dizer, o Mauro e eu,
porque nem pensava ele, certamente naquela quando estava na frente de uma
Delegacia de Polícia, fazendo o seu trabalho profissional, certamente não
pensava o Mauro que seria o Prefeito de Santo Ângelo, um Deputado Estadual, nem
me passava pela cabeça um dia ser Vereador desta Cidade e presidir esta Casa.
Fomos colegas, eu fui aluno do Mosquera, eventualmente, Professor do Quevedo. E
eu, vejo aqui, na sala, pelo menos dois ou três professores daquele tempo. A
Professora Grasiela Pacheco, pela qual todos nós temos um carinho imenso
sempre; meu Professor e hoje Diretor de Pós-Graduação Noel Clemente, da PUC; e
aí devo mencionar todos aqueles professores da PUC. Já, naquela época que fui
aluno, o Irmão Maynard; Irmão Armando Bortolin, Irmão Francisco Jardim, já eram
os professores e hoje respondem pela Direção da Pontifícia Universidade
Católica. Para não falar de um amigo muito especial que aqui se encontra, que é
o Frei Rovílio Costa, que tem nos acompanhado nesta Casa nos bons e nos maus
momentos, nas festas e até mesmo nos momentos de tristeza, como há pouco tempo
ocorre, quando um dos ex-Vereadores desta Casa, falecido, por sua decisão foi
aqui velado e a encomendação foi exatamente sugerida e solicitada ao Rovílio e
ele imediatamente nos atendeu.
O Ver. Wilson Santos mencionava que nós
disputamos o direito de falar, e realmente é verdade. Na verdade, hoje,
quebramos duas vezes a previsão desta Sessão. A primeira é porque o Ver. Leão
de Medeiros iria presidir esta Sessão. Nós temos o que considero um salutar
hábito de fazermos um rodízio na Presidência dos trabalhos. Inclusive, com o
próprio Ver. Wilson Santos, que integra também a Mesa Diretora da Casa como 2º
Secretário.
Mas me foi possível desincumbir das funções e ao
menos queria assistir à Sessão com o Mosquera. Então, o Ver. Leão de Medeiros
gentilmente abriu mão e nos cedeu a Presidência dos trabalhos. Por outro lado,
conversava com o Ver. Wilson Santos e dizia, já que vou estar aqui, então quero
dar a minha presença, sem tirar a autorização do Ver. Wilson Santos falar pela
minha Bancada, mas não poderia deixar evidentemente de me manifestar, antes de
tudo ao amigo Mosquera. Porque é bom que se diga, se eu estou aqui hoje, um dos
responsáveis é este Cidadão que está aí sendo homenageado.
O Mosquera é o tipo daqueles professores raros
hoje em dia, infelizmente, que o aluno tem uma relação radical, ou a gente
adere total ao professor, ou a gente repele total o professor. O Mosquera não
dá chance da gente ser em cima do muro, café com leite. Ou a gente entra pro
time do Mosquera e se envolve absolutamente com as aulas que ele dá, ou a gente
odeia a aula do Mosquera, porque o Mosquera faz pensar, o Mosquera provoca,
sobretudo se a gente resolve não gostar, aí parece que acende e vem para cima.
E isto me parece que é fundamental, sobretudo, nos cursos em que o Professor
Mosquera trabalha, quando está preparando professores, quando está preparando
aqueles que, profissionalmente, vão ter, depois, a responsabilidade de
prosseguir essa tarefa da transmissão do conhecimento e da cultura e, mais do
que uma transmissão apenas formal, eu diria a transmissão desse carimbo muito
especial, dessa maneira muito pessoal que é a de a gente se envolver realmente
com as coisas. Esse entusiasmo do Prof. Mosquera, essa paixão verdadeira do
Prof. Mosquera, faz com que muitas vezes ele esqueça horários.
Eu sou um sujeito que ao longo de todos esses
anos vem fazendo milhares de coisas simultaneamente, mas, certamente, o Mosquera
me ganha. Toda vez que eu cruzei com ele, ele conseguiu andar mais ligeiro do
que eu e a gente só passava um pelo outro, era um vento de ambos os lados, era
só “Oi!” e ele já estava longe, porque está sempre correndo. Ele sai de um
curso daqui para dar outro curso ali, nesse meio tempo escreve um artigo,
produz um livro e está provocando uma aluna, evidentemente, que ele não perde
essa oportunidade. Nesse sentido, o Prof. Mosquera certamente terá tido uma
influência decisiva - acho que não vou errar em dizer - em milhares de alunos,
milhares de alunos que passaram nos estágios do Colégio de Aplicação da UFRGS,
nos cursos de Pedagogia, aqueles que ouviram uma palestra do Mosquera, aqueles
que tiveram a oportunidade de privar com o Mosquera em algum encontro mais
social, na casa de algum convidado, mas onde a conversa acabava sendo
catalisada pelo Mosquera que, além do mais, não fala baixo, como eu, e como tem
firmeza de posições, evidentemente, acaba centralizando essas conversas e
garante as suas posições e briga por elas o que eu acho muito importante.
Quando em 1974, por motivos que todos nós
conhecemos, da política brasileira, eu me decidi por me afastar do Brasil, por
via das dúvidas, levei poucos livros comigo para o Canadá. E um dos livros que
foi comigo foi o do Mosquera, “A Psicologia da Arte”. Um livrinho muito
simples, que a Sulina editou. Hoje já não sei quantas edições tem isso, não é
Mosquera? Mas algumas edições. E foi um dos livros que me acompanhou ao longo
de um ano e pico que eu fiquei trabalhando em Montreal e onde até acabei por
estabelecer uma relação talvez até mais eficiente com o Mosquera pela
correspondência. Por isso eu quero dizer que, realmente, de maneira pessoal,
através das idéias, sobretudo por uma coisa que eu acho extremamente importante
num professor, pelo respeito que o Mosquera tem pelo seu aluno. Que é uma coisa
fundamental para quem é aluno. O Mosquera marcou. Marcou a todos nós que
passamos pelas suas classes com mais ou menos tempo.
E é por isso, Ver. Wilson Santos, que eu não
podia lhe deixar ficar sozinho falando aqui hoje, eu tinha que meter a minha
colher, neste discurso, para dizer ao meu professor e ao meu amigo Juan José
Mouriño Mosquera, e fazer eco, com toda a certeza a tantos ex-alunos. Imagino
que a Marlene Schirmer que está aqui na minha frente, que hoje coordena o
Pós-Graduação da Ulbra, e imagino que muitos que vejo aqui, que são mais ou
menos da minha geração, todos nós gostaríamos de dizer tudo isso que foi dito
pelo Ver. Wilson Santos ao Mosquera. Muito obrigado. E a nossa expectativa de
que este título nos garanta a tua permanência. Tu que escolheste este lugar
para ficar, tu escolheste como tua família este grupo imenso de colegas,
professores e de alunos. Hoje, tu formalizas ou nós te formalizamos como um do
nossos.
Esperamos que efetivamente que este agradecimento
formal, muito humilde, apenas te mantenha convocado a permaneceres aqui conosco
até quando for possível. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Devolvo a
Presidência dos trabalhos ao Ver. Antonio Hohlfeldt.
O SR. PRESIDENTE (Antonio
Hohlfeldt): Agradeço ao Ver. Leão de Medeiros e agora passamos a esse momento
central que é a entrega do título.
Eu passo, portanto, às mãos da Drª Eulália
Guimarães, Procuradora-Geral do Município, aqui, na representação do Sr.
Prefeito Municipal, o diploma que será entregue ao Prof. Mosquera e peço ao
Ver. Wilson Santos que venha também aqui para fazer a entrega da medalha
correspondente.
Pediria a todos que assistissem ao ato em pé.
(A Srª Eulália Guimarães procede à entrega do
diploma.) (Palmas.)
(O Ver. Wilson Santos procede à entrega da
medalha.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra ao
nosso homenageado, Sr. Juan Mosquera.
O SR. JUAN JOSÉ MOURIÑO MOSQUERA: Gostaria de
dizer que não preparei nenhum discurso, pela primeira vez, pois sou tão
programado. Resolvi falar o que vou sentir.
Antes, evidentemente, tenho que agradecer ao Sr.
Vereador Antonio Hohlfeldt; Ver. Leão de Medeiros; Dep. Mauro Azeredo; Srª
Eulália Guimarães, representando o Prefeito Olívio Dutra; Sr. Tenente-Coronel
João Quevedo.
Gostaria, também, de cumprimentar todas as
pessoas que estão acompanhando este ato, inclusive, meus chefes da Pontifícia
Universidade Católica, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Ulbra,
que estão aqui presentes.
Gostaria de agradecer ao pessoal da Universidade Católica do Uruguai que tem mandado vários telegramas no dia de hoje.
Estou muito emocionado. Se tornou lugar comum dizer isto, mas eu estou, pela primeira vez, tremendo. E não é fácil eu tremer. Isto é bastante importante, porque se eu lembro quando cheguei a Porto Alegre, em 1960, e por um acidente de percurso tive que ficar na Cidade - e eu pouco gostava dela - eu aprendi a ir amando aos poucos realmente, foi uma longa caminhada. Este é um momento, para mim muito significativo, porque eu tenho compreendido, realmente. Porto Alegre é um lugar que escolhi para viver, para trabalhar e, principalmente, para tentar ser, na expressão de Erik Erikson, “um ser gerativo”. A geratividade é aquela capacidade que as pessoas têm de ir deixando a possibilidade de ver os outros crescerem e crescer juntos.
É também muito emocionante, em primeiro lugar,
pelas palavras do Wilson - permita-me assim chamar, quebrando o protocolo -
porque o Wilson também coloca uma parte, para mim importante, que é o valor e o
significado de Deus. Pouco valeríamos se não tivéssemos em nós esta idéia, este
critério. Eu acho que de nós vimos e a Deus voltamos. E acho que este
intermédio do que fazemos é muito importante, porque é um compromisso. O
compromisso social, o compromisso pessoal e que, realmente, algo nas palavras
do colega me tocaram de forma profunda. Nós, professores, somos de fato modelos
de identidade e modelos que se espelham no transcorrer da vida das pessoas.
Antonio, me permita, agora, dizer, eu te conheço
há anos e te quero muito bem, vi tua carreira toda e vejo tua carreira e
acompanho, te dizer que tuas palavras foram também muito importantes para mim.
Palavras que demontram que um professor não deixa - se ele é apaixonado - de
marcar o seu aluno. E esta marca é muito importante, porque é o que resta de
melhor para o professor. É o que o professar pode e deve, realmente, deixar no
outro: a vontade de crescer, a vontade de ir pra frente e a vontade de ser
pessoa.
A todos os que estão aqui e que me tem
acompanhado em qualquer tipo de atividade ou de relacionamento, eu considero um
privilégio estar, hoje, aqui, recebendo este título. E me sinto duplamente
responsável, porque este título me liga em definitivo a Porto Alegre. E esta
ligação não é uma ligação a coisas, é uma ligação a pessoas, é a ligação a
valores.
A todos vocês que estão aqui, a todos, eu
gostaria de dizer “muito obrigado”. Penso, neste momento, em duas pessoas em
especial: na minha mãe e na minha primeira mãe espiritual, em Porto Alegre, que
foi D. Alaídes do Amaral. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: No encerramento desta
Sessão, tenho o privilégio de, pela primeira vez, completar esta homenagem com
um pequeno brinde, o qual será oferecido pela Câmara, a partir desta Sessão,
aos seus homenageados. É um brinde muito simples; de um lado um pequeno jogo de
xicrinhas com o brasão de Porto Alegre. De outro lado, uma iniciativa da Mesa,
uma publicação sobre a história e sentido desta Casa.
É a nossa pequena contribuição para a recuperação
da imagem do Legislativo em geral e deste Legislativo, a qual estamos buscando,
com a transparência da Administração, nesta junção partidária que buscamos e,
sobretudo, com seriedade, queremos desejar mais uma vez ao Mosquera, que mediu
o tempo certinho da emoção maior para encerrar o seu discurso e é realmente uma
alegria muito grande, Prof. Mosquera, estarmos aqui na Casa, presidindo os
trabalhos, no momento da homenagem ao Professor a quem tanto admiramos.
Encerramos os trabalhos, nesta tarde, convocamos
os Srs. Vereadores para a Sessão Solene de aniversário da Casa, amanhã pela
manhã, às 9h30min, a qual convidamos as Senhoras e Senhores que quiserem nos
dar o prazer. Estão encerrados os trabalhos na tarde de hoje.
(Levanta-se a Sessão às 18h.)
* * * * *